POR QUE SE PREOCUPAR COM A POLINIZAÇÃO?

agosto de 2019

POR QUE SE PREOCUPAR COM A POLINIZAÇÃO?

Inicialmente, é importante conhecer o conceito de polinização. A polinização consiste na transferência do pólen contido nas anteras (órgãos masculinos da flor) para o estigma (porção receptiva dos órgãos femininos). Do sucesso da polinização depende a fecundação dos óvulos da flor e a consequente formação de sementes e frutos. Então, a polinização é o processo inicial na produção de frutos e sementes.

Por que se preocupar com a polinização? Por que se preocupar com o uso indiscriminado de agrotóxicos, que causam a morte de milhões de abelhas por todo o mundo? Simplesmente, porque as abelhas são as polinizadoras mais eficientes da natureza. São capazes de polinizar milhares de flores num único dia.

A transferência de pólen para o estigma pode ocorrer numa mesma flor (autopolinização) ou pode ocorrer de uma flor para outra (polinização cruzada).

A polinização pode acontecer por fatores abióticos, como em plantas aquáticas que são polinizadas pela água; nesse caso chamamos essa síndrome de polinização de hidrofilia. Temos ainda plantas polinizadas pela ação dos ventos, como é o caso do milho (Zea mays L.), nesse caso, chamamos essa síndrome de polinização de anemofilia.

Muitas espécies de plantas são polinizadas por animais e insetos, então, chamamos de polinização biótica. Na polinização biótica, temos as mais diferentes e espetaculares interações entre plantas e organismos vivos. Chamamos de ornitofilia, as plantas polinizadas por aves, incluindo beija-flores, que são muito frequentes nas flores. Temos a quiropterofilia, que é a síndrome de polinização efetuada por morcegos. E temos também a entomofilia, que são as plantas polinizadas por insetos. Nessa classificação, temos plantas polinizadas por coleópteros (cantarofilia), por borboletas (lepidopterofilia), por mariposas (psicofilia), por moscas (miofilia) e a mais comum que é a melitofilia, polinização efetuada por abelhas, vespas e formigas.

As flores e os agentes polinizadores podem estar de tal maneira adaptados um ao outro que há casos de orquídeas polinizadas exclusivamente por uma espécie de abelha. É muito conhecida também a importância das mamangavas na polinização das flores do maracujazeiro (Passiflora spp.), sendo que a falta dessas abelhas exige que os agricultores contratem mão de obra para realizar a polinização manual, serviço que é realizado gratuitamente por essas abelhas.

Os agentes polinizadores são atraídos pelos recursos chamados primários oferecidos pelas flores, como néctar, pólen, óleos e resinas. Existem também recursos atrativos chamados secundários como as cores e os odores, sendo que algumas flores exalam substâncias atrativas para polinizadores específicos.

Tanto as abelhas quanto as plantas se beneficiam do processo de polinização. Para as abelhas, as flores fornecem o alimento, néctar e pólen, além de resinas para a elaboração da própolis. E as plantas, oferecendo o alimento para as abelhas, recebem em troca a transferência do pólen das anteras para o estigma, garantindo a perpetuação da espécie, além de garantir a variabilidade genética dessas plantas.

Existem plantas que apresentam flores masculinas e flores femininas separadas, como é o caso das espécies da família Cucurbitaceae. Como exemplos dessa família temos o pepino (Cucumis sativus), a melancia (Citrullus lanatus), o melão (Cucumis mello), o chuchu (Sechium edulis), dentre outras. Essas espécies vegetais necessitam da visita de agentes polinizadores para que haja produção de frutos. Agricultores que plantam melão, no Nordeste, estão habituados a contratar apicultores que levam suas colmeias de abelhas Apis mellifera africanizadas para polinizarem as culturas, no período de florescimento.

As abelhas apresentam colônias com grande número de indivíduos e por estocarem alimentos como o mel, por exemplo, são necessárias visitas constantes nas flores, fazendo-as polinizadoras em potencial. Além disso, podem ser manejadas para a polinização das culturas. Não só as abelhas africanizadas são importantes polinizadoras, as abelhas nativas ou sem ferrão também são muito frequentes nas flores.

Muitas colmeias estão morrendo decorrente de doenças, bactérias e vírus que dizimam a colônia, enfraquecidas, na maioria das vezes, pelo excessivo uso de defensivos agrícolas na agricultura. Esses defensivos podem matar as abelhas diretamente nas flores ou indiretamente, pela ingestão de néctar, pólen e água contaminados e, ainda, podem contaminar os produtos elaborados pelas abelhas, como o mel e o pólen, que serão consumidos pelo homem. O desmatamento e as queimadas frequentes eliminam o habitat natural de muitas espécies de polinizadores, sejam elas espécies de abelhas, outros insetos, aves ou animais.

Existe grande preocupação com a preservação de agentes polinizadores, que são responsáveis pela produção de frutos e sementes de inúmeras espécies de plantas. A preocupação é tão evidente que existe uma Iniciativa Mundial de Preservação de Polinizadores, no qual o Brasil tem participado efetivamente com muitos pesquisadores, renomados internacionalmente, estudando e avaliando as plantas e seus polinizadores.

O célebre Albert Einstein já dizia que “Se as abelhas desaparecessem da face da Terra, em apenas quatro anos, a humanidade pereceria de fome”.

É necessário que o conceito de produzir alimentos com eficiência, se preocupando com o solo, com a variedade, com as condições climáticas e com a irrigação, também deve levar em consideração os organismos presentes no meio ambiente que colaboram e que sobrevivem desses recursos florais, como é o caso das abelhas.

Estudos realizados no sentido de conhecer as espécies de visitantes florais, os horários em que visitam as plantas, quais os recursos alimentares que as plantas oferecem aos visitantes e o efeito da visita desses agentes polinizadores na produção de frutos e sementes é essencial para os agricultores. Se pensarmos em produção de mel, de pólen, de própolis, enfim, dos produtos apícolas, esse conhecimento é fundamental também para os apicultores.

Vários estudos, no Brasil e no mundo, confirmam o aumento de produção com a presença dos polinizadores. Por exemplo, a laranjeira apresentou 25% de aumento de produção de seus frutos, além de frutos mais doces e com maior quantidade de sementes, com a presença das abelhas africanizadas nos pomares (Figura 1). As mamangavas são bem conhecidas nas flores do maracujá, entretanto, são importantes em outros cultivos também, como é o caso da goiabeira (Figura 2).

Conhecer a interação planta-polinizador é essencial para a produção dos frutos e sementes, sendo que a polinização é um serviço ecológico fundamental que é realizado por abelhas, borboletas, outros insetos, morcegos e outros animais. Portanto, para que haja aumento na produção quantitativa e qualitativamente, é fundamental maior incremento do nível técnico dos cultivos, desde o plantio de variedades selecionadas até os cuidados com a apresentação dos frutos destinados ao mercado, não esquecendo o processo inicial que é a polinização.


LITERATURA CONSULTADA

MALERBO-SOUZA, D.T.; PINTO, A.S., TOLEDO, V.A.A. Ecologia da polinização. Piracicaba: CP2, 2008.

MALERBO-SOUZA, D.T. Goiabeira: visitantes florais e polinizadores. FUNEP: Jaboticabal, 2013.

NOGUEIRA-COUTO, R.H.; COUTO, L.A. Apicultura: manejo e produtos. 3 ed. Jaboticabal: FUNEP, 2006.


Darclet Teresinha Malerbo-Souza

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